major eléctrico


quinta-feira, fevereiro 01, 2007
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Entrevista: Todd Terje


Todd Terje: in the navy.

Falámos com 'Todd' Terje Olsen em 15.12.2006 para a newsletter do Lux. Esta é uma versão reduzida da conversa. Obrigado ao Lux.

Sais da Noruega com frequência, como DJ. É sempre bom regressar?
Na verdade sim. É sempre bom viajar mas nada supera a sensação de estar em Oslo.
Diz-se que és grande fã de pores-do-sol. Lembras-te onde assististe ao teu melhor de sempre?
Bom, provavelmente na TV. Gosto de pores-do-sol mas mais num sentido cliché de filme. Acho até que não vi assim tantos pores-do-sol incríveis, lamentavelmente.
Que é que gostas de fazer quando assistes a um?
Não sei, comer pipocas, beber uma cola. Normalmente é na TV, em séries antigas como «Dynasty» aparecem bastantes pores-do-sol. «Baywatch», conheces?
És relativamente jovem. Como é que que te interessaste por música que se calhar os teus pais ouviam?
Bem, como todos os miúdos a primeira coisa de que realmente gostei foi provavelmente Michael Jackson. Depois, com 13 anos gostava de música de dança comercial e toda aquela cena holandesa horrível, no fundo o que era popular com os miúdos na época, má música de dança... E então comecei a fazer música como essa, usando velhos gravadores e computadores, mesmo old school. Aprendi muito sobre como fazer música electrónica ao ouvir aquilo, mesmo que não prestasse para nada.
Apanhaste coisas dos teus pais?
Sim, provavelmente todas as coisas que ando a passar agora, tipo Demis Roussos, Chris Rea, não sei... A minha mãe ouvia sobretudo música religiosa, o meu pai ouvia Country e eu não gostava de Country, na época.
Ah, mas talvez um dia venhas a gostar.
Sim, algum Country é porreiro. Estou a virar-me mais e mais para esse lado, mas não gosto de Country 100% puro...
Pareces ter-te especializado na transfornação de nomes improváveis em ouro Disco, com Paul Simon ou Chris Rea. Como é que avalias os originais?
Varia. No caso do Paul Simon não gosto muito do original, mas as partes de onde tirei o meu edit são boas. E em relação à faixa do Chris Rea, «On The Beach», gosto da boa onda, o meu pai costumava tocar isso quando eu era puto, por isso... Não sou propriamente fã, mas as partes certas são funky, por isso é bom.
Reconheces imediatamente um potencial re-edit quando ouves uma má canção que tem partes boas?
Não sei, não sei porque faço tantos re-edits, não acho que tenha mais ouvido para re-edits do que qualquer pessoa, tenho é muito tempo nas mãos, por algum motivo... Não sei, às vezes é tipo "oh, esta bateria é óptima e este baixo soa mesmo bem, mas aquela parte horrível tem de sair", percebes, e começa-se a partir daí. Ou então faz-se ao contrário e isolam-se as partes que se quer usar, três compassos de bateria, dois compassos de baixo, e por aí fora.
Quanto tempo gastas à procura de música desconhecida?
Acho que já fiz mais isso, porque era difícil encontrar esse tipo de música, na altura. Mas agora é bastante fácil encontrar música óptima na internet, com as mixtapes e fóruns. E agora todos os êxitos Cósmicos foram redescobertos na internet.
Tens orgulho na tua colecção de discos, até agora?
Bem, outro dia pensei que se a minha casa ardesse com todos os meus discos lá, não seria uma crise. Se acontecesse há três anos estaria arrumado como DJ, mas agora consegue-se arranjar tanta música na internet...
Já vendeste discos da tua colecção?
Sim, costumava vender bastantes discos, mas eram mais clássicos Disco e coisas fáceis de arranjar que comprava barato. Ainda vendo, quando encontro um repetido barato tento sempre vendê-lo depois...
Vendes a amigos ou colocas no eBay?...
Costumava pôr discos no eBay mas só se soubesse que conseguia pelo menos 100 dólares por cada, por isso não muitas vezes.
Arrependes-te de algum que tenhas vendido e que agora seja difícil de arranjar?
Acho que não. Acho que gravei para o computador todos os discos de que precisava. Se puder escolher entre ter em vinil um tema que vale 400 dólares ou tê-lo como ficheiro wave, prefiro tocá-lo em CD. De qualquer modo, nunca seria capaz de tocar um disco de 400 dólares.
Estás mais ou menos no centro deste movimento a que chamam Baleárico ou Cósmico ou isso. Como é que sentiste a progressão para isso e o súbito interesse das pessoas por estes géneros de música?
Já sou DJ há muitos anos mas só depois de ter editado um disco é que comecei a ser requisitado assim. Não sinto que esteja no centro da cena Baleárica, é só a maneira como toco...
O que é Shari Vari?
É um clube que fazemos em Oslo. É só isso, por agora.
O nome está no MySpace. Que achas do MySpace?
É óptimo. Consome imenso tempo. É bom para fazer contactos mas até agora ainda não me deu contactos valiosos, isto é, é fácil dizer olá aos amigos e isso mas eu não estou a usá-lo para trocas profissionais de música ou contactos. É mais uma cena de amigos.
E ajuda a combinar festas com amigos? És uma pessoa festiva?
Saio todos os fins-de-semana, mas não me desgraço, não tomo drogas, nada disso. Mesmo assim, preciso da minha cerveja e Disco todos os fins-de-semana. Bem, durante as últimas semanas estive a estudar para os meus exames. Leio a semana toda, acho que mereço uma pausa, por isso tenho saído bastante nestas últimas semanas.
Que é que estás a estudar?
Física.
Como é que chegaste lá?
Comecei por estudar música mas as aulas eram tão incrivelmente más que tive de tomar uma posição em relação à forma como quero estar na vida. Quero um emprego. Gostaria de seguir uma carreira como DJ ou produtor, pelo menos tentar durante alguns anos, mas nunca dependeria disso, isso seria estupidez. Por isso, quando não conseguir mais datas como DJ posso regressar à Física Quântica ou assim, percebes, arranjar um emprego.
Consideras mesmo a sério a hipótese de trabalhar nessa área, então.
Claro, não conseguiria ser DJ com 50 anos. Bem, até conseguiria mas...
O Kevorkian faz isso.
Sim, mas ele é um velho rabugento. Não quero ser como o Kevorkian.
Que área da Física é que te entusiasma mais? Falaste da Física Quântica...
Bem, porque fiz um exame há poucos dias. Não sei que especialização me interessa mais. Mecânica clássica é a mais entusiasmante, penso eu, porque é difícil relacionarmo-nos com a Física Quântica, não existe propriamente na vida real. Bom, existe, mas não se consegue realmente observá-la.
Quando tens amigos estrangeiros a visitar-te em Oslo, de que é que te orgulhas mais na tua cidade?
Tenho amigos cá agora e não consigo pensar numa única coisa de que me orgulhe. É uma cidade óptima mas não consigo identificar exactamente porquê. Não temos assim nada para mostrar... mas tem uma atmosfera amigável. Não há muito a acontecer, só algumas festas, o que é uma pena, a cena de clubes quase não existe, aqui.
Estás satisfeito com a Supreme, até agora, com todo o interesse que há pela editora?
Primeiro que tudo tenho de dizer que a editora não é minha, apenas lancei uma data de edits através dela, mas sim! Os primeiros maxis soam um pouco estranhos, mas depois disso a qualidade do som e a prensagem são... Gosto muito, e ainda por cima faço o que quero, basicamente.
Quem é que mais respeitas na música, hoje em dia?
Pessoas que se atrevem a fazer coisas diferentes, pessoas que tentam fazer algo novo mas ainda assim prático. Isto é, existe muita gente a fazer música nova e experimental mas que não tem ideia de como resulta na pista de dança, e eu respeito imenso pessoas que têm sensibilidade para ambas as coisas, pista de dança e, não sei, cenas cósmicas. É preciso um pouco de ambas. Não respeito, por exemplo, electro-house chato, aquelas coisas que saem da Alemanha, todas as faixas soam iguais, mas se misturares isso com influências cósmicas mais estranhas, o resultado pode ser bom.
Ouves muita música em casa?
Na verdade não, porque o meu sistema de som não é grande coisa. Ouço como DJ, ouço singles, é chato, já tentei mudar, comprar um leitor de CD, mas tenho muito a cena de DJ em casa, ponho maxis e ouço um após outro. Isso não é bem ouvir música, penso eu, é apenas pesquisar temas que vais tocar mais tarde.
E quem é que gostas mais de ouvir?
Maurice Fulton. As últimas coisas que ele tem feito são realmente impressionantes e inovadoras. Se pudesse acrescentar uns pozinhos de Maurice Fulton às minhas produções, seria um homem feliz.
Já tentaste contactá-lo para remisturas ou assim?
Não, nem por isso, mas também não sou esse tipo de pessoa. Não tento ter um pouco de Maurice Fulton na minha vida perguntando por uma remistura, acho mais valioso ouvir as suas produções e tentar aprender. Há tantas editoras que tentam comprar um nome só porque contratam uma estrela para remisturas. Não é dessa maneira que gosto de fazer as coisas.