Música na Twilight Zone: Ralph Lundsten
O excesso de cor-de-rosa na vida de Ralph Lundsten faz-me lembrar exactamente a minha porta de entrada: o CD «Hairy Fantasies», há 15 anos, foi directo para a prateleira depois de uma audição rápida e a conclusão de que não servia o gosto da época. Mesmo assim, «In The Office Jungle» pareceu sempre uma possibilidade para mixtapes e tornava a ouvir o disco com anos de intervalo. O booklet rosa explica uma fantasia cósmica contada através dos títulos, mas na minha cabeça a imagem de Andromeda na capa não ligava com o castelo de conto de fadas na contracapa. Agora liga.
A música de Ralph Lundsten é difundida por todo o mundo porque o hino de abertura da Rádio Suécia Internacional foi composto por si. Nasceu em 37, começou a construir e equipar o estúdio Andromeda em 1959 e «Discophrenia» saiu em 1978. Há uma reedição na Svek em 1998 com remistura de Jesper Dahlbäck, maxi duplo também com a versão original. Claramente não-Disco, não para as pistas de dança, mas com um groove inspirado no Espaço e nas bolas de luzes que Lundsten tinha no estúdio. «Hairy Fantasies» reúne música gravada entre 1972 e 86, dispersa por vários álbuns, com destaque para quatro temas do álbum que também se chama «Discophrenia».
O estúdio Andromeda foi equipado não apenas para som mas também para imagem. O sonho hippie, às vezes ácido, de Lundsten, produziu uma atmosfera irreal por todo o edifício onde se encontra o estúdio, o castelo de Frankenburg (séc. XIX), perto de Estocolmo. As várias divisões estão decoradas um pouco como um retiro new age, um pouco como cenário de filme surrealista, e a música que se ouve no CD é mais ou menos a transcrição sonora do psicadelismo pastoral do edifício. Mergulha-se claramente na década de 70, quando se experimentou muito com som e imagem em direcção ao Espaço. O nonsense de muita música em «Hairy Fantasies» traduz uma liberdade criativa impressionante, numa época pré-editoras independentes e fora de estruturas académicas. «Rendez-Vouz With A Washing Machine», «Computerful Love», «Cat Nymphony» têm ruídos, delírios ecos e dissonância suficientes para se pensar em que zona estava a cabeça de Lundsten. E depois onde estava a mesma cabeça quando compôs obras na fronteira com a new age mais inconsequente. Ralph é um homem da Renascença, artista multifacetado com uma visão muito própria (ainda que artisticamente questionável), patrono das artes e anfitrião por vocação na sua casa-jardim. Tudo muito complexo e quase tudo coisas que não precisamos de saber para fugir da realidade com a música mais experimental e avançada de Lundsten.
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