major eléctrico


segunda-feira, abril 09, 2007
--------------------------------------------------------------------

Entrevista: Tim Sweeney

Picard

Falámos com Tim Sweeney em Fevereiro de 2007 para a newsletter do Lux. Foi numa terça-feira, dia em que Sweeney apresenta o seu programa Beats In Space. Obrigado ao Lux.

Como é que estás, hoje?
Estou bem, estou bem, hoje é dia de comprar discos para o meu programa logo à noite.
Discos novos?
Sim, bom, novos e antigos. Ando aí pelas lojas a ver o que aparece. Há muitas coisas antigas que se arranjam, mas coisas novas acho que encomendo quase tudo da Europa.
Beats In Space: Star Trek ou Star Wars?
Acho que gosto mais do Star Trek, os novos Star Wars são terríveis.
Já foste a alguma convenção?
(risos) Uma vez, acho, tinha uns 12 anos, fui a uma convenção do Star Trek, por isso admito que sou um nerd. Ok.
Isso não é muito nerd, tinhas 12... Tens algum bem precioso?
Já não, mas tive um poster de cartão do capitão Picard, tinha orgulho nisso.
Não é muito vintage...
Pois, acho que não, mas eu gostava muito dele. Uma vez no Halloween vesti-me de capitão Picard.
Pensava mesmo que o nome vinha da cena Pigs In Space, dos Marretas.
(risos) Isso seria melhor.
Já tinhas feito rádio antes do Beats In Space?
Enquanto estava no liceu, o meu irmão já andava na faculdade e fazia um programa de rádio, por isso acabei por passar discos no programa dele, isso deixou-me interessado. Depois também fiz o mesmo noutra rádio perto do meu liceu, e com essas duas experiências percebi que queria fazer rádio sempre que pudesse.
Para além dos podcasts, Beats In Space é um programa em directo, também.
Sim, 89.1 FM aqui em Nova Iorque, na WNYU, que é a estação da Universidade de Nova Iorque, onde eu andei. Comecei a andar lá em 1999, foi quando comecei também o programa. Depois tive de manter o estatuto de estudante para poder continuar a fazer o programa, por isso tenho umas aulas todos os semestres numa escola de educação contínua.
Qual é a importância que as estações de rádio universitárias ainda têm?
A rádio mainstream é quase toda feita por computadores, agora, e é tudo música do top 40. Há umas duas estações comunitárias aqui em Nova Iorque. E aqui temos rádio por satélite, basicamente para as pessoas nos carros, mas isso acabou até por dar mais alternativas porque há tantas estações por satélite que podem ter diferentes tipos de música e aprofundar mais as coisas do que na rádio mainstream. Mas as rádios universitárias já não são tão importantes como eram, não faço ideia de quantos ouvintes temos...
Nunca fizeram sondagens?
Não estamos inscritos na cena Arbitron de sondagens, por isso não sabemos quantas pessoas ouvem a rádio em directo. Mas a rádio na internet abriu o mundo inteiro, a experiência tem sido óptima.
Conheces muitas pessoas que ficam em casa a ouvir rádio?
Não muitas... A minha namorada fica, isso eu sei. Mas até há pessoas a ligar para lá, por isso sei que há gente a ouvir. Muitas dessas chamadas são um bocado doidas, acho que quem fica em casa a ouvir rádio deve ser um bocado doido.
Em que ponto é que notaste mais interesse pelo teu programa?
Foi provavelmente quando comecei a trabalhar com a DFA, nessa altura também comecei a ter mais convidados no programa, mais material exclusivo, especialmente da DFA, e as pessoas começaram a interessar-se mais.
Tinhas dificuldade em arranjar convidados, antes disso?
Depende... Andei a tentar o Carl Craig durante muito tempo, esse foi dos que demorou mais tempo. Depende do interesse que os DJs e produtores têm por rádio. Para mim é bom porque em Nova Iorque não há nenhum sítio que passe este tipo de música. Por isso as pessoas que convido não têm outras hipóteses de tocar as coisas deles na rádio sem ser no meu programa. Podem fazê-lo na internet, mas não há mais nenhum sítio no que respeita a rádio ao vivo, por isso, se o formato lhes interessa, não tenho grandes dificuldades em levá-los ao programa. Só preciso de arranjar maneira de entrar em contacto com eles.
Como é que planeias os teus programas?
Para passar as minhas coisas é para aí um dia antes, ou então vou comprar discos no próprio dia, ou escolho coisas que não passo há muito tempo, o formato é muito aberto. É tudo feito ao vivo. Bom, alguns programas com convidados são pré-gravados quando eles vêm a Nova Iorque ou então enviam-me os sets. Mas na maioria dos casos tanto os programas com convidados como os meus são feitos ao vivo, não faço nada em casa no computador.
Achas que o Beats In Space é uma coisa muito de Nova Iorque? Como é o feedback lá fora?
Recebo montes de emails de fora de Nova Iorque, o que é óptimo. Acho que a maioria são de pessoas que gostam de ouvir o programa porque este lhes dá uma sensação de como é Nova Iorque. Acho que isso é em parte verdade, mas se essas pessoas viessem cá e quisessem encontrar uma noite onde se ouvisse exactamente este tipo de música não seria fácil. Mas o programa é um misto do que acontece aqui em Nova Iorque, o trabalho com a DFA, ir a lojas de discos e falar com pessoas daqui, trocar ideias.
Promoves muitas coisas que acontecem em Nova Iorque, no programa?
Sim, claro, tento sempre promover noites de outras pessoas, se valerem a pena. Mas sinto que o programa se tornou mais internacional, e então, mesmo que promova coisas, a maioria das pessoas não vai poder atravessar o Atlântico para vir a uma noite ou assim...
Tens a tua própria noite?
Costumava ter, agora é muito irregular.. Sei que a DFA quer começar a fazer alguma coisa regular aqui em Nova Iorque, porque achamos que a cidade precisa e toda a gente na DFA quer fazer isso, é só uma questão de encontrar o sítio certo. Agora está difícil porque não há sítios em Nova Iorque.
Como é que está a cena, aí?
Há muita coisa a acontecer. Não posso dizer que haja algo de novo mas há sempre muita coisa a acontecer, é sempre excitante estar aqui. Gostaria que a cena de clubes fosse mais forte porque há muitos bons DJs aqui e não me parece que tenham hipótese de mostrar isso tão bem em Nova Iorque como o fazem na Europa, onde há clubes muito melhores.
Pode falar-se numa Nova Iorque pré-DFA e pós-DFA?
Sim, acho que sim, as coisas mudaram depois da DFA. Há muito mais putos do rock a sair para dançar, e os putos da música de dança saem mais para dançar rock, esse cruzamento de caminhos acontece muito mais, agora. Mas há muitas outras influências para além da DFA, aqui em Nova Iorque.
Quando é que sentiste que ser DJ se tornou parte importante das tuas actividades, foi antes do Beats In Space?
Comecei a passar música no 8º ano e depois disso sabia que queria ser DJ quando crescesse. Sempre quis fazer isso em full-time.
Lembras-te da primeira vez que tocaste fora dos EUA?
Acho que deve ter sido numa das primeiras tournées da DFA, não me lembro bem... Fomos a Londres, Berlim e Paris, foi mais ou menos quando a editora estava a começar, 2003, por aí. Mas talvez tenha ido ao Canadá antes disso, é muito mais fácil ir ao Canadá.
Quem é que admiras como DJ, agora?
Adoro os Optimo, não me canso de os ouvir e a noite deles em Glasgow é incrível.
Já lá tocaste?
Nas noites Optimo aos domingos à noite não têm DJs convidados, só bandas, por isso ainda não toquei aí, mas eles fizeram duas noites em Glasgow, a primeira foi Optimo Apresenta DFA, num sábado à noite numa escola de artes, comigo e o Tim Goldsworthy a passar música e a Delia [Gonzalez] e o Gavin [Russom] a tocar ao vivo. Depois toquei na Optimo Apresenta ESG, foi incrível também, as ESG a tocarem ao vivo...
E produtores, ou bandas?
Recentemente tenho gostado bastante das produções do Maurice Fulton, porque ele anda a mudar as coisas, a reduzir-lhes um pouco a velocidade. E depois há uma coisa nova a sair na DFA, Andy Butler, o grupo chama-se Hercules And Love Affair. Estou a adorar as coisas dele, mal posso esperar para que sejam editadas, tem o Antony a cantar alguns temas, o que é fantástico. Tem traços de Arthur Russell mas também House de Chicago, Techno de Detroit... tipo Inner City, mas actualizado para 2007, estou a adorar.
E tu, não pensas em produzir?
Sim, claro, ando agora a fazer coisas com o Tim Goldsworthy. Vamos fazer dois maxis mas vão sair numa editora japonesa chamada Mule Musiq. Um dos maxis terá dois edits, bom, um edit e uma espécie de remistura pirata que fizemos, e depois o segundo maxi são duas faixas originais. Estou muito entusiasmado com isso, e ando também a trabalhar numas remisturas para umas bandas. Não sei quando isso vai sair, mas acho que as coisas com o Tim Goldsworthy sairão antes, acho que o primeiro maxi em Junho.
Vai sair com os vossos nomes?
Vai ser como T&T, porque somos dois Tims.

+