Hipótese única de estabelecer contacto com Stuart Moxham, o/um cérebro dos Young Marble Giants. Sobre a troca de emails, aqui fica um resumo, incluído na última edição da Op., número de Verão.
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Até que ponto a atitude de “less is more” expressa em “Colossal youth” foi o resultado de uma verdadeira intenção formal, de puro instinto ou das possibilidades técnicas de que dispunham (ou da falta delas…)?Precisávamos de um conceito musical marcante para alcançarmos um objectivo que era, para nós, aparentemente impossível. Achávamos que não o íamos conseguir e, por isso, procurámos ter sempre uma abordagem minimalista, de forma a não perdermos demasiado tempo e energia. Como não tínhamos dinheiro, tivemos que pedir emprestado quase todo o pequeno leque de equipamento que utilizámos. Mas toda a gente aprecia o poder do minimalismo na arte, não é?
Contudo, houve uma intenção de grandeza ao usarem palavras como “colossal” e “giants”…Não. Dar nomes às coisas foi quase sempre a parte mais difícil. Não escolhi estas palavras: as palavras é que me escolheram, e pareciam ser estas as mais adequadas. Claro que temos consciência do alcance das palavras: “Colossal youth” foi uma espécie de constatação de como o mundo, desde os anos 40, tinha transformado os jovens em ídolos e criado uma cultura da juventude - para o melhor e para o pior. Obviamente, procurámos alcançar a grandeza dos artistas que mais admiramos (Simon & Garfunkel, Beatles, Eno, Kratfwerk ou Neil Young), não faria sentido se não escolhessemos os melhores! A grandeza está, na verdade, naqueles que ouvem.
De onde veio a inspiração para as canções dos Young Marble Giants?De experiências pessoais e da imaginação de um solitário infeliz. Inconscientemente…
Concorda que “Live at the Hurrah” mostra uma banda que não se sentia muito “à vontade” a tocar ao vivo? Como eram os vossos concertos?Eu gosto imenso de tocar ao vivo mas o Phil e a Alison não. Esses foram os últimos espectáculos antes de “fecharmos a loja”, por isso, na altura, estávamos muito irritados com o estado das coisas.
Como olhou para “Colossal youth” ao longo de todos estes anos, desde a data em que foi lançado?Todas as canções que eu escrevi desde que comecei, em 1975, são como se fossem meus filhos, por isso gosto de todas elas, mesmo as mais feias e indesejadas. As minhas canções são os meus activos, a prova de que estou vivo, o meu diário, a minha autobiografia, a minha verdade, a minha consciência, a razão do meu ser, etc., etc… A minha inspiração quando escrevia para o grupo foi muito especial - e os resultados são obviamente um esforço conjunto que, no seu todo, são algo mais do que a simples soma das partes, graças ao processo mágico que é fazer música com um grupo de amigos. Por isso, “Colossal youth” tem um lugar muito especial nos nossos corações, além de que é o meu trabalho de maior sucesso, quer em termos comerciais quer de crítica, até hoje. Por todas estas razões será sempre um álbum muito especial para mim, embora raras sejam as vezes em que eu, de há muito tempo para cá, o tenha voltado a ouvir.
Qual a razão desse afastamento?Isso deve-se em parte ao facto de ser um trabalho meu e de olhar para ele de uma forma completamente diferente da de todos os que não pertenciam ao grupo. E também porque, quando fazemos um disco, ficamos de tal forma saturados dele que a última coisa que queremos é voltar a ouvi-lo por um período tão longo quanto possível.