major eléctrico


quarta-feira, setembro 12, 2007
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Entrevista: Tiago

Tiago, bateria e guitarra (© André Gomes )

Tiago é dos gajos mais cool de sempre, 1001 coisas sempre em acção, tudo importante. Falámos com ele sobre muito pouco do muito que já fez. O resultado apareceu no Blah Blah Blah de Setembro 2007. Obrigado ao Lux.

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Tiago é DJ residente no Lux desde o início, sempre uma das personalidades que dá identidade ao clube e contribui para a saudável esquizofrenia que puxa em várias direcções e da qual, enquanto público, não abdicamos. Ele próprio: desenha, improvisa, faz música (Loosers e Gala Drop, principalmente), toca discos e decide que discos saem na sua editora Ruby Red. Fez cinema, foi membro da clássica Cool Train Crew que agitou Lisboa no final do século passado, membro de Dezperados (agitam desde o início deste século), homem da Renascença e habitante da Caparica.

Dantes eras Tiago Miranda, agora só Tiago?
Nomes de família são chatos e confundem, são só meus, o Tiago é de toda a gente.
De que extremo a extremo vai o alcance dos teus sets? Quero nomes.
Não tem grandes extremos, tudo o que passo faz parte da mesma lógica, para mim. Não os vejo como extremos mas pontos de ligação, bem perto uns dos outros, com algo em comum.. Nomes: de George Clinton a Michael Chapman é tudo música que passo no mesmo compasso..
E qual dirias que é a base nos teus sets?
Depende... Hoje tendencialmente tenho-me guiado por uma vibração mais latina, estou-me a voltar para esse som sem saber explicar. Coisas tipo Ray Barreto, Kongas, LTG Exchange, rock chicano ou mesmo coisas mais antigas de Santana têm-me feito vibrar! É o sabor... Sobretudo tento misturar música nova com música antiga, sem género.
O que é Disco Jaded?
É o nome de uma música do James Chance (Contortions). Também é uma noite que comecei no Lux, em Lisboa, há coisa de 2/3 anos, com concertos ao vivo e mais tarde com DJs convidados. A ideia para a noite era cortar com a estética do Lux da altura, queria pôr panos pretos gigantes no lugar dos videos (no bar) e não ter luz nenhuma a não ser a do néon cor de rosa choque feito propositadamente para a festa. Musicalmente não havia (há) nenhum conceito que não o de liberdade... Passava-se (passa-se) música africana,
rock soul e psicadélico, disco, house, acid house, slows, techno, you name it... sempre misturado com muito álcool. BUUUUUUU. Comecei por levar bandas e depois passou para DJs. Gostava de continuar uma noite em que pudesse partilhar música com os meus amigos, aliás, com todos os DJs convidados fazemos back to back a certa altura da noite, se não toda a noite.. não pode ser melhor!!... Ainda no outro dia estava a falar com o Nuno [Rosa] sobre isso, o que quero para a festa é que as pessoas se divirtam e que por tal se sintam inspiradas para serem mais criativas. Se depois de uma noite alguém for para casa e no dia seguinte se sentir inspirado para ser mais criativo no seu trabalho, para mim o tema está a ser cumprido.
Álcool é mais fixe que drogas para o ambiente que queres nas tuas noites?
Qualquer coisa é boa desde que não te faça sentir miserável. Tudo bom!
Ainda achas que Disco Jaded corta com a estética do Lux agora? Que estética era essa? E consegues ter tudo escuro, como gostarias?
Na altura não consegui que essa parte fosse para a frente, mas basicamente queria cortar com o excesso de imagem que havia no Lux na altura do video, sentia demasiada distracção alheia ao essencial. E não, ainda não consegui o escuro que gostaria para as minhas noites mas já não tenho video e a minha visão mudou.
Ainda sais à noite ou essa fase já passou?
Nunca saí muito à noite portanto posso dizer que sim, continuo a sair. E adoro quando o faço!
Aplicas alguma coisa da tua experiência com os Loosers nos teus sets? E o contrário?
Quanto a aplicar experiência: nada! Não vejo grande ligação consciente de experiências, MAS hoje mais do que nunca acho que estes dois (digo nas bandas e como DJ) nunca estiveram tão perto. Talvez seja o tal "vibe" latino.
É muito diferente tocar sozinho e com Dezperados? Porquê?
Os Dezperados até para mim são um mistério, e falam sempre a duas vozes. Preferia falar sobre projectos mais recentes como a minha editora Ruby Red ou a dupla com o DJ Al e as U-night. Queres fazer isso?
Sim, o que achares que é importante! Como é U-Night, p ex?
As noites com o Alcides tem sido óptimas. Já nos conhecemos há uns anos mas só agora é que nos encontramos neste nível necessário para fazer o que temos feito. Continuamos o caminho de outros com géneros que temos em comum a tentar criar uma coisa nossa. U-night quer unir TODA a gente, e tirar um bom partido do momento.
A editora apareceu quando senti necessidade de editar os discos da minha banda. Recentemente tive oportunidade de alargar a "família", por isso comecei a editar bandas que admiro (só em Portugal existe um numero fantástico de pessoas a fazer música incrível e que por si só davam recheio para uma casa). Vão sair brevemente discos de pessoas tão diferentes e fantásticas como Curia, One MIght Add, Caveira, e lá de fora Tabata Mitsuru, Adam Rudolph with Go Organic Orchestra, Rob Brown with Andrew Barker, etc... Tem sido tudo MUITO entusiasmante para mim.
Compras mais discos novos ou antigos? Quanto é que gastas nisso por mês?
Compro mais discos antigos. Gasto algum por mês porque tento sempre arranjar cópias originais em vinil e a especulação é demasiada... Vem por fases porque na verdade compro mais música quando viajo.
Ainda passas Drum & Bass? O que é que aconteceu com o Drum & Bass?
Não, já não passo D&B (pelo menos como o fazia), embora tenha sido uma altura muito fresca para mim (como outras que se seguiram), e a CoolTrain Crew era um bom grupo. Para alem das noites que fazíamos havia reuniões enormes, de horas a fio, com jantares e almoços. Já não me lembro do que se falava mas iamos-nos fazendo amigos. Havia encontros com todo o tipo de pessoas, desde financiadores, managers, MCs, enfim... quem entrava no grupo merecia reunião, era fantástico este ponto de encontro. Sentias-te num grupo unido e com uma visão. Agora não tenho seguido mas suponho que continua a dar fruto a coisas fantásticas como quando apareceu.
Loosers é uma equipa de amigos tipo CoolTrain? Sentes algo parecido? Saem juntos e essas coisas?
Sim, somos amigos, mas diferente da CTC. Conheci o Zé e o Rui quando cheguei a Lisboa, literalmente no primeiro dia. No fim de semana a seguir fomos ensaiar como Kings Of The Metal e desde então temos estado sempre juntos, tudo bom! Com a CTC a coisa ganhou um espaço natural, mas continuamos todos de certa forma a acompanhar o processo dos outros, seja a ler, ouvir, ou ver.
Antes dos Loosers eram os Kings Of The Metal, então. Era giro? Acabou mesmo, certo?
Sim, já acabou. O Nuno [Leonel], que tocava connosco, foi viver para os Açores e a banda desformou para Loosers. Não podia ser giro... vinha do heavy, muito boa possy! Músicas altamente estruturadas, algo que nunca mais voltámos a fazer. Ensaiámos durante seis anos para apenas dois concertos ao vivo. Foi MUITO divertido!
Em que sentes mais paixão: tocar coisas estruturadas/ensaiadas ou improvisar no momento e com pessoas com quem não tocaste antes?
O que gosto mais é de criar estruturas com aquilo que improviso portanto acho que gosto dos dois de igual modo. Sistematizar improvisação também é fascinante, e isso acontece mais quando ponho música. Por exemplo, dividir a noite por horas e em cada hora cumprir uma ideia do que devo fazer, improvisando, naturalmente. Ajuda-me a cumprir um horário de seis horas ou algo do género.
Porque é que não fazes música de dança? Loosers não conta ; )
Já tentei várias vezes mas nunca encontrei alma naquilo que fiz por isso não investi, MAS estou a fazer coisas (não dança) para editar em editoras dessa modalidade, acho um desafio porreiro. Também tenho uns edits para ser editados em breve, e finalmente encontrei espaço na nova casa para montar um mini estúdio, quem sabe agora arranje o
espaço necessário para pôr alma num desses projectos de dança. Vou sempre tentar estar envolvido em algo.
Tocas em Lisboa há mais de 10 anos. É melhor agora ou, sei lá, em 97? Ou é a mesma coisa? Porquê?
Há dez anos o MUNDO era diferente, naturalmente sair à noite em Lisboa também era. Hoje parece-me tudo muito mais "consciencializado", para o bem e para o mal. Segue tudo demasiadas normas e com isso perdem-se muitas coisas. Sinto falta principalmente de um certo "à vontade" essencial que se perdeu. Mas há-de rebentar mais tarde ou mais cedo, já se sentem putos a fazerem coisas incríveis fora do corporativismo de seca que tomou conta de TUDO.
Falas de que normas? Estilos musicais, conhecer as pessoas certas, ir aos sítios certos... Esse tipo de cenas?
As normas que entopem as artérias desta cidade e de outras, mais isso tudo que disseste mais também a invasão em nome da "segurança", o correcto cheio de moral e que é falso, todos esses truques, enfim, todos os novos códigos dos anos 00.
E putos que andam a fazer coisas incríveis por aí, onde é que eles andam? Já está a passar a fase em que o pessoal de 30 e tal anos é que dominava?
Os putos que em forma de Homem demostram que conseguem manter-se juntos, de caminho com casamentos e os ideais revolucionários. Com 30 ou menos anos.
Em que ano é que vieste para Lisboa? Vieste fazer o quê?
Vim para Lisboa em 1993/94 para estudar cinema, fiz uma entrevista horrível no Conservatório e não fui aceite. Depois fiz uma curta metragem em video financiada por uns amigos, passei por uns festivais, fui ao deserto filmar um documentário, escrevi um argumento para uma longa metragem, fiz perche num filme francês e pronto, foi o meu cinema, agora nem às salas vou. Entretanto tinha começado a pôr música à noite e a organizar conferências durante o dia para decidir o que havia de seguir. Ganhou a música, naturalmente.
Como se chamava a curta-metragem que fizeste? E que documentário é que foste filmar (e para qual deserto)?
Chamava-se Riotte, era um ensaio sobre um pedaço de um filme (Fat City) do John Huston re-encenado noutro contexto, com o Dinis, a Ana Moreira e o David Simões. Fui ao deserto sozinho filmar o acaso por Marrocos abaixo. Tenho muito boas recordações desse país. Infelizmente nunca mais lá voltei. Foi dos primeiros sítios em que achei que podia viver fora de Portugal.
É verdade que estiveste na primeira edição de Vilar De Mouros?
Não foi na primeira, foi na segunda. Que edição do caraças: Rip Rig and Panic, A Certain Ratio, Sun Ra Arkestra.......épico!! Tenho pena de não me lembrar de absolutamente nada, mas segundo consta, andei de canoa, dancei com o Bono dos U2, tomei banho no rio, e conheci um monte de hippies.
Que música é que ouvias em 87?
Acho que quem mais ouvia em 87 eram os Fall e Crosby Stills Nash and Young, por aí... Nessa altura comecei a trabalhar numa radio (rádio Guimarães, agora defunta), foram bons tempos, cómicos e à distancia surreais. Também tinha uma banda que abriu para o João Peste e os Acidoxibordel (com quem mais tarde vim a tocar) chamava-se Subúrbios, tipo gótico pop canário.
Isso foi já nos anos 90?
Não, fim de 80. Nos anos 90 estava a viver em Braga, comecei a tocar com os UZA e conheci o Dinis. Foi ele que de certa forma me incentivou a vir para Lisboa ao oferecer um quarto.
Coisas que façam falta em Lisboa para que sair à noite seja melhor.
Mais engenho e autonomia. Noites ainda mais quentes
Coisas melhores em Lisboa do que na melhor cidade em que já tocaste lá fora (se houver).
Sistemas de som, calor.
Trabalho é diversão?
Para mim e para os outros. Mas sai-te do pêlo.
Faz uma estatística rápida: qual é a média de idades do público de Dezperados e do público de Disco Jaded?
A de Dezperados cada vez mais nova a de Disco Jaded cada vez mais velha. Tudo bom!
Dezperados são índios ou cowboys?
Y M C A
Como é que convenceram o Omar-S a estar no MySpace de Dezperados?
Clicámos Add to friends, esperámos (eventualmente ele aparece), depois
pusemos no Top.
Qual foi o último DJ que ouviste ao vivo que mexeu mesmo contigo? Onde é que foi?
O Brian Degraw [dos Gang Gang Dance] no Sway na noite dos Smiths... tão básico e tão alegre que me comoveu. Toda a gente a cantar, a música fez o DJ. Noutro contexto, o meu amigo Emanuele Pinotti AKA DJ Qbico na Yellowish Radio.
Um disco incrível de 2007.
Charles Cohen & Ed Wilcox «Those Are Pearls That Were His Eyes» [editado pela Ruby Red].

http://www.myspace.com/tiagomiranda
http://www.freewebs.com/discojaded/
http://www.myspace.com/loosersarefree
http://www.loosersarefree.com/
http://www.freewebs.com/rubyredlabel/
http://www.myspace.com/dezperadosdjs
http://www.dezperados.com/