major eléctrico


sábado, abril 28, 2007
--------------------------------------------------------------------

Rub-N-Tug: Seis Graus de Separação

Falámos com Eric Duncan em 15.03.2007, mas a entrevista não produziu material suficiente. Rub-N-Tug são naturalmente pouco reveladores e, na verdade, quem somos nós para que nos digam pessoalmente e com detalhe quem são e o que fazem. Basta-nos a música que tocam e a vida que levam. Tentámos por isso perceber que contexto gerou Rub-N-Tug e descobrimos um mundo de relações férteis e duradouras. O texto que se segue foi publicado na newsletter do Lux, em Abril de 2007, a propósito do set de Rub-N-Tug em 28.04.2007. Como sempre, obrigado ao Lux.



O reforço e dependência crescentes, graduais, da internet, ligaram milhões de pessoas por todo o mundo mais rápida e intimamente do que qualquer outra revolução prévia nas comunicações. A internet uniu praticamente todas as pontas que é possível unir e assim é comum dizer-se que o mundo ficou mais pequeno. Muito antes desta realidade, Stanley Milgram iniciava nos anos 60 experiências concretas para provar até que ponto duas pessoas escolhidas ao acaso podiam ser ligadas através de uma curta linha de relações com outras pessoas. A teoria dos seis graus de separação pretende que é possível ligarmo-nos a qualquer pessoa no mundo num máximo de seis relacionamentos. Eric Duncan e Thomas Bullock são um exemplo orgânico, dinâmico, de como esses relacionamentos se desenvolvem no curso natural da vida. Não existe muita nformação detalhada sobre Rub-N-Tug, eles próprios não são muito claros quanto ao seu percurso em conjunto, e então é preciso começar a relacionar outros nomes para percebermos o verdadeiro alcance e fascínio de toda a ideia Rub-N-Tug. Quando perguntámos a Eric quem foram as suas maiores influências, a resposta foi "Tenho de dizer o Thomas, o Harvey, o meu amigo Paul T em Los Angeles, na verdade todos os meus amigos que estão na música e isso, todos nos alimentamos uns dos outros."

SHAWN STÜSSY
Tinha 10 anos em 1965 quando começou a fazer surf. O interesse pelo desporto cresceu ao ponto de começar a desenhar e modelar as suas pranchas e, mais tarde, a fazer o mesmo profissionalmente para outros. Acabou por se estabelecer em Laguna Beach, na Califórnia, em 79, onde montou um negócio. A assinatura que colocava em todas as pranchas que desenhava ou modelava começou também a ser colocada em t-shirts que, para ele, serviam apenas para promover as pranchas. As t-shirts passaram a ser vendidas em lojas de surf. Stüssy e os amigos vestiam muita roupa usada e as calças militares que compravam e cortavam para fazer calções começaram a dar nas vistas. Então a Stüssy passou a vender calções. Depois abriu lojas. Hiroshi Fujiwara levou a marca para o Japão, Michael Kopelman para a Europa. Shawn Stüssy já não é dono da marca que fundou, vendeu a sua parte em 1996 ao sócio e amigo Frank Sinatra Jr. para poder gozar a vida livre de negócios. A influência da marca na comunidade streetwear das últimas quase três décadas é um primeiro passo para se entender um estilo de vida que gera personalidades como Rub-N-Tug.
+
+

HIROSHI FUJIWARA
Nasceu em 1964. Nos anos 80 estava imerso em música, como DJ e produtor, para além de um curso de design de moda na prestigiada Bunka em Tóquio. Vestia Vivienne Westwood e quase só por isso foi apanhado pelo hype, foi a Londres e conheceu Malcolm McLaren, que lhe disse que Nova Iorque é que era. Levou discos e energia de volta para Tóquio, onde passou a representar a Stüssy (loja em Tóquio em 1991). Em 86 era membro da crew hip hop Tiny Panx, com Takagi Kan. Daí nasceu uma coluna de lifestyle na imprensa. Fujiwara gravou em 88, com Kudo (Major Force), «The Return Of The Original Artform», revisto em 2001 por Harvey num maxi para a Mo'Wax (James Lavelle era fã absoluto da cena hip hop japonesa e também da cultura downtown nova-iorquina). De volta à roupa, Fujiwara tinha a Good Enough e gerou um circuito fervilhante de criatividade que dava nas vistas também no Ocidente mais atento. Conhece Michael Kopelman em Londres e pouco depois acontece mais uma aliança trans-oceânica: a loja Hit & Run de Kopelman foi fundamental para o design streetwear japonês na Europa, vendendo pela primeira vez marcas como A Bathing Ape, de Nigo (trabalhou com Fujiwara e a sua importância, hoje, pode ser percebida fazendo google com BAPE e Pharrell Williams). Hoje, Fujiwara continua uma figura venerada na cultura de rua e fez escola com a decisão de se vestir a si e aos seus amigos com as roupas que desenhava em vez de contratar modelos conhecidos para promover as marcas.
+
+

MICHAEL KOPELMAN
Entrou na cultura pela música, foi dos primeiros DJs a passar Hip Hop em Londres, e a paixão paralela por roupa teve episódios nerd como o facto de Tim Simenon (Bomb The Bass) ter usado um blusão seu num video. Kopelman visitou famíla em Nova Iorque durante os 80s e do seu entusiasmo pela cultura de rua nasceu a ligação com a Stüssy. Quis trabalhar com a marca. Já tinha um link anterior porque, numa das suas visitas ao Japão, passou música numa festa da Stüssy. Já conhecia Hiroshi Fujiwara, que encontrou pela primeira vez em Londres quando ambos disputavam o mesmo disco num mercado. Stüssy, Hysteric Glamour, Bathing Ape, aNYthing, Good Enough e Sarcastic são algumas das marcas, na sua maioria japonesas e norte-americanas, que Kopelman começou a distribuir em Inglaterra e na Europa. Abriu a primeira loja ao público em 1997, a Hit & Run. Em 2000 muda o nome para Hideout. Em 2005 soube-se que a Hideout funcionava como uma espécie de distribuidor inglês para os discos super-raros da editora Whatever We Want (Brooklyn, Nova Iorque). São praticamente os únicos produtos não directamente relacionados com roupa que a loja vende.
+

PAUL TAKAHASHI
Fundou a marca de roupa Sarcastic em 1997, na Califórnia, depois de trabalhar para a XLarge, associada à cena skateboard. Como Michael Kopelman e Hiroshi Fujiwara, Takahashi é DJ e também tocou em festas da Stüssy no Japão. Quando Harvey começou a ir à Califórnia tocar em 97, a sua influência deixou raízes e em 2001 concretizou-se a associação com a Sarcastic: a mixtape Sarcastic Disco de Harvey era oferecida a quem comprasse roupa na loja da Sarcastic em Tóquio, e uma centena de cópias das 1200 feitas ficou disponível através da base americana da marca. Harvey + Sarcastic continuam com festas regulares. No site harveysarcasticdisco.com diz-se: "A sua presença no sul da Califórnia teve um grande impacto, isso mudou a cena de música de dança em Los Angeles. Ele mostrou-nos como criar uma atmosfera especial para as festas - não apenas misturar e escolher discos obscuros, mas coisas como ter cuidados especiais com o som e a iluminação. Todos os elementos são importantes para o todo. Na verdade, esta atitude e dedicação à qualidade inspirou-nos a dedicar também mais tempo e esforço às nossas produções."
+
+

AARON BONDAROFF
É na verdade A-Ron The Downtown Don, um ícone cool da baixa nova-iorquina quando nem sequer completara 20 anos, estatuto se calhar impossível se não tivesse abandonado o liceu aos 15. Trabalhou na loja da Supreme, foi conselheiro de estilo e tendências e também modelo desta marca de skatewear, chegou naturalmente ao Japão mas respira intensamente a vida de Nova Iorque. A aNYthing apareceu em 2001, pouco depois do 11/9, e é a sua declaração absoluta de estilo. A-ron tem as mãos e a cabeça em tudo, respeita os clássicos e está sempre em cima do que as ruas têm de novo e excitante. A inspiração é a própria cidade e a aNYthing, mais do que uma marca, é um estilo de vida aplicado a roupa e objectos. A loja abriu em Dezembro de 2005 na mesma altura em que os discos da Whatever We Want chegavam à Hideout em Londres. Bondaroff é ainda o principal motor para o sucesso do 205, um clube na baixa de Manhattan que, sem publicidade, fez o seu público a partir da teia de relações pessoais e criativas de Bondaroff. Eric Duncan dos Rub-N-Tug toca no 205 todos os Sábados, sempre que está em Nova Iorque.
+
+
+
+

HUGH HERRERA
Tem o domínio H-Track criado desde 1999 mas só em 2004 concretizou esta netradio. Herrera seguiu de longe toda a cena Baleárica, Ibiza e Manchester, durante a década de 80, e criou a sua coisa entre Las Vegas e San Diego. Em 2001 associa-se ao dono do restaurante mexicano Candelas, em San Diego, para um espaço contíguo chamado Lounge Candelas, rapidamente uma referência na cultura relacionada com Sol e Música na Califórnia. Danny Krivit, Alex From Tokyo, Paul Takahashi da Sarcastic e, claro, Harvey, foram DJs programados no Lounge. A residência mensal de Harvey foi importante para o seu estatuto de culto na Costa Oeste. Tal como outros nomes comentados neste artigo, a reputação do Lounge fez-se com acção e conteúdo, não com publicidade. Herrera deixou de ser o mentor do espaço em 2006 mas é sócio de Harvey no Thirty Nine em Honolulu.
+
+
+
+

HARVEY
Harvey Bassett é, como se diz, 'maior do que a vida'. É difícil hoje em dia medir a sua influência. Nascido em Londres, cresceu em Cambridge, onde conheceu Thomas Bullock, tocou bateria em bandas punk até que, com Bullock e outros, fundou um soundsystem inspirado nos originais jamaicanos. Chamava-se Tonka Hi-Fidelity e as suas festas mensais em Brighton já eram lenda quando a Acid House atingiu a nação em 88. Harvey ganhou nome com a residência no Ministry Of Sound, em Londres, durante os 90s, descobriu Ibiza e todo o conceito de música baleárica passou a ser central nos seus sets. Em 96/97 é convidado pela Wicked Crew para tocar em Los Angeles e reencontra Bullock, que já tinha trocado Inglaterra por São Francisco e era parte da Crew. Até hoje, a Califórnia é habitat regular de Harvey, onde as noites Sarcastic Disco imaginadas com Paul Takahashi fizeram subir ainda mais o seu culto. É sócio de Hugh Herrera no Thirty Nine Hotel em Honolulu, Hawaii, que considera actualmente a sua base. O hotel funciona como galeria, espaço para música ao vivo e festas onde Harvey intensifica a experiência para quem quer sentir a sua música. O Hawaii é também perfeito para quem pratica surf, como Harvey faz depois de muitos anos como skater. Desde 2005 que se fala no seu álbum com Thomas Bullock, como Map Of Africa.
+
+
+

CARLOS
Carlos Arias realizou o video de «Ghostlawns» (Antipop Consortium) para a Warp em 2002 mas a sua actividade principal é como editor de imagem. Ganhou o prémio AICE na categoria de comédia em 2006. Depois de organizar as festas Record Club NYC com Phil South, no início em ambientes privados (significando as suas casas ou de amigos, cada pessoa levava 10 discos e uma garrafa de vinho), a ideia cresceu para a noite No Ordinary Monkey em 2004. Carlos passa discos na sua noite, onde já tocaram os !!!, Harvey e, regularmente, Rub-N-Tug, parte do núcleo duro que alimenta tudo isto. Em 2005 aparece sem anúncio a editora Whatever We Want com discos de Bobbie Marie, Quiet Village, Map Of Africa e Otterman Empire. Carlos alimenta activamente a desinformação sobre a editora que fundou, nas poucas entrevistas conhecidas. Zero publicidade, mais uma vez. Menos é mais.
+
+
+
+

ERIC DUNCAN
Eric Duncan cresceu com Paul Takahashi na Califórnia, e em 1986 passava o tempo em casa dele a ouvir discos de hip hop e electro, coisas que o irmão mais velho dele comprava. Depois de um dia de skate iam para casa de Takahashi e era isso que faziam. Dez anos depois, Eric vive em Nova Iorque. Com DJ Spun, da editora Rong, é How & Why. Michael Kopelman e A-Ron são amigos de longa data. A interminável rede de relações de que é feita esta história fica completa, no assunto Rub-N-Tug, pelo encontro entre Eric e Thomas Bullock através do amigo comum Paul Takahashi numa festa em L.A.

THOMAS BULLOCK
Thomas é amigo de Harvey desde Cambridge e dos tempos do soundsystem Tonka, mas em 91 mudou-se para São Francisco, onde integrou a Wicked, uma espécie de promotora de festas que fez história na Califórnia durante a Era Rave e praticamente criou a cena house psicadélica na Costa Oeste. A meio dos 90s, quase coincidindo com Eric Duncan, Thomas muda-se para Nova Iorque, onde continua a produzir house para a Greyhound (editora de Garth, da Wicked) ao mesmo tempo em que a sua nova banda, A.R.E. Weapons, começa a gerar parte da cena rock/electro que hoje conhecemos. Thomas saiu em 2002. As suas novas bandas são Map Of Africa, com Harvey na voz e bateria, e Bobbie Marie, com Rene Perez. Fez edits para a Whatever We Want com o nome Otterman Empire.

RUB-N-TUG
As festas Rub-N-Tug, Disco Theatre Of Manhattan ou Campfire, todas com Thomas e Eric, ganharam fama de sítios para ir, a verdadeira experiência disco-punk que começou realmente num antigo salão chinês de massagens a que os americanos chamam rub and tug. Os discos eram tocados sem sequências lógicas de géneros ou épocas, o som cortado para ouvir os gritos das pessoas, tudo contra as regras do livro correcto de DJ e captado, tanto quanto possível, no CD «Campfire» em 2005. Géneros associados sob o nome Disco injectaram novo entusiasmo na música de dança, eternamente revolucionária mas rapidamente conservadora quando cada revolução se instala. Rub-N-Tug oferecem sets mais polidos no Fabric, em Londres, onde se tornaram residentes (Fabric 30 é um CD que, mais do que o ambiente de festa, mostra a música actual que usam nos seus sets). Em 2006, a segunda mixtape de Rub-N-Tug para a aNYthing, «Better With A Spoonful Of Leather», actualizou a sensibilidade cósmica de DJs do passado como Daniele Baldelli e Beppe Loda. Eric situa a mixtape nas 8 da manhã, a selecção de música tocada em rotação lenta torna a audição numa coisa narcótica e suspensa no ar. Rub-N-Tug sumarizam a intensidade dos momentos importantes na música de dança desde que o Loft abriu portas em 1970, os seus melhores sets prestam homenagem simultânea a Loda, David Mancuso, Larry Levan, Ron Hardy, François K e Harvey, são momentos de pausa no continuum histórico em que se revê muita matéria e nos ocorre que tudo o que fizemos até então se destinou a conduzir-nos àquele local. Se formos pessoas intensas, é como experimentar um novo grau zero, a partir do qual tudo é de novo possível. Apenas com música a tocar em fundo.
+
+
+

2 comentários





terça-feira, abril 24, 2007
--------------------------------------------------------------------

New School (11)

Saturn V: terceiro módulo

X2/Saturn V «Primitive Cypher» 12" Relief 2006
Traxx/X2 «Mysterio/Juz Jak» 12" Nation 2007
X2 «Zeta» é logo Art Of Noise com Jak estilo Jamal Moss (qualidade de som péssima, mesmo underground), «Time ELEVATION Rhythm» no lado B abusa no som de pratos e Saturn V «[Kontrol] Your Mind» acaba por ser o ácido mais declarado. Dream Team de Melvin Oliphant (Traxx), Tadd Mulinix (James Cotton) e D'Marc Cantu. Só para amantes. O outro maxi, na Nation, a nova editora de Traxx, existe agora a par da série Crème JAK para dominar 2007 pelo poder da beatbox. «Juz Jak» é Body Music, «Mysterio» é Body Music só que ninguém diz "Work your body" como em «Juz Jak». Para dançar, sim, se arranjarem um sítio que toque estes discos.
Patrice Scott «Beyond Deep» 12" Sistrum 2007
Segundo maxi na Sistrum, profundidade Detroit típica. Emoção, drama e vapor em «Beyond Deep» (retomado com menos beat em «Deep Again»), menos de tudo em «Raw Fusion», um esqueleto rítmico simples e delicado, quase click-house sem os clicks.
Kathy Diamond «Over» 12" Permanent Vacation 2007
Maurice Fulton produz e, apesar de a voz de KD não ser nem metade desadequada, é o instrumental que agarra 100%. Groove house logo plenamente formado desde o início, completo na percussão (segundo o Al, parte do beat é samplado de Marvin Gaye) e atmosfera, piano e, mais à frente, orgão ainda por cima de tudo. Intenso e genial.
STL «QRZ» LP Something 2007
Stephan Laubner editou na Perlon em 2000 mas desde então praticamente só na Something com discos de efeitos sonoros, loops e drones. Neste álbum, duas faixas house old school óptimas (ecos de Chicago, sempre), um tema ácido desnecessário, 30 loops visivelmente cortados e uma longa faixa de 16 minutos com drone nocturno nítido e evocativo de noites de Verão ao relento. «QRZ» e «High Again», as duas faixas house com 9 minutos cada, têm o groove certo para tornar este disco estranho num objecto de carinho. Mas nada aqui é 'bonito'.
Ra.H «Fall Of Justice» 12" Morphine 2007
Editora de Veneza com missão de preservar as artes house e techno próximas da origem, se bem que o som é tudo menos old-school. O tema-título soa às remisturas de Quiet Village se fossem house, rico em padrões, cores e ritmo, empolgante e contemporâneo. Lado B «Cheeky Herbs» constrói o ritmo a partir de palmas aparentemente fora de tempo, limpa depois o chão e arrasa. Delírio de orgão só acrescenta credibilidade.
Abicah Soul Project «Nimba Groove» 12" Symple 2007
Linhagem house espiritual de Osunlade, Joe Clausell, o Todo Poderoso, etc. A versão original é a cena aqui, longo groove orgânico, linha de baixo muito parecida com «Obsidian» de PWOG, perto de uma ideia de transe que abre espaço e provoca concentração. «Nimba Groove» é carregado de ambiente, não tem uma ponta desnecessária ou discutível, eleva. A remistura de Filsonik respeita o original ao ponto de apenas encorpar o ritmo sem alterar o essencial do ambiente. Em ambos os lados há bonus beats.

0 comentários





quarta-feira, abril 18, 2007
--------------------------------------------------------------------

Double D Force + Major





Sexta-Feira, 20.04.2007
Estado Líquido, Lisboa
Double D Force
Back To Back To Basics
Boogie!

0 comentários





terça-feira, abril 10, 2007
--------------------------------------------------------------------

Jardim Tropical



Jardim Tropical, Belém, Lisboa
Flyer feito em ink-and-paper
Major passou discos de Major Eléctrico

1 comentários





segunda-feira, abril 09, 2007
--------------------------------------------------------------------

Compras 09.04.2007

Trans-Lux «Big Apple Noise» 12" Rush 198?
O disco não tem a data, mas a versão mais corrente é de 1983. sta versão inclui Special re-Edit e Original US Version, não é a edição que tem «Street Noise» no lado B, descrito como versão de «Big Apple Noise» gravada ao contrário. O tema é uma megamix quase estilo Stars On 45 mas com os hits electro da época: Art Of Noise, a linha de baixo de «Cavern» (Liquid Liquid), «Rockit» (Herbie Hancock), «Buffalo Gals» (Malcolm Mclaren). Pouco extraordinário, não mais do que uma curiosidade de época, se bem que a megamix não é feita com os originais mas sim recriações dos mesmos. Produzido por Began Cekic (gralha no rótulo, aparece como Cevic), autor do incrível «Sixty-Nine» de Brooklyn Express.
Ralph Lundsten «Discophrenia» LP EMI/Harvest Svenska 1978
A 49 dólares, é o disco mais caro (de longe) na colecção. O loop iniciado com a redescoberta do CD (ver dois posts abaixo) completa-se com a aquisição do álbum creditado a Ralph Lundsten and The Andromeda All Stars. «Discophrenia» e «Luna Lolita» são o funk, aqui, mas tudo o resto é groove. A música é carregada de sons estranhos, vozes e efeitos, bateria abafada, flauta, uma atmosfera exótica que, como temos vindo a aprender, só parece possível tomar certas formas no Norte. Com excepção de «Andromedian Nights», mais convencional, as outras 6 faixas são património único e adorável, puro ouro. A capa pintada por Birgitta Harizell-Wittgenstein foi determinante na compra.
The Warlord «The Ultimate Warlord» 12" CBS 1979
No site Discogs.com tanto este «Ultimate Warlord» como o disco com o mesmo nome gravado pelos Immortals aparecem com o mesmo ano, 79, e parece ser a versão de Immortals que se tornou clássico Italo. As partes pirosas de voz são totalmente compensadas pelas partes boas de voz: "I am the ultimate warlord!" com voz cibernética é terrivelmente bom! Para quem tolera pouco as partes pirosas, o lado B «I Shall Return» é isento, as vozes são dramáticas, os synths controlados e a bateria (também no lado A) soa como o álbum «Vienna» dos Ultravox em 1980.
Nightlife Unlimited «Just Be Yourself» 12" BMC 1982
Ouvida num programa de rádio não-Beats In Space em que o convidado era Thomas Bullock de Rub N Tug. Algures entre Hi-NRG e Vanity 6, «Just Be Yourself» poderia ter saído na Ze Records. O break com cowbell parece «Funkytown» de Lipps Inc, mas a subida de tom da voz parece Lisa em «Sex Dance».
The Justified Ancients Of Mu Mu «Shag Times» 2xLP KLF 1988
Óptima capa gatefold com textos escritos sobre os JAMs na imprensa. Do álbum duplo apenas trouxe para casa o disco 2 (o único no interior da capa) mas o preço de 75 cêntimos não provocou hesitações. As lições de KLF (os JAMs) de como fabricar um hit pop são colocadas em prática nesta compilação cujo disco 2 inclui instrumentais e versões diferentes. A febre acid house intensificou a subversão KLF, que passaram a apropriar-se de bleeps tanto como breaks hip hop. Se bem que também disponível no maxi de «Doctorin' The Tardis», a versão minimal do tema com o mesmo nome aqui chama-se apenas «120 BPM» (como as faixas nas dj tools de Willesden Dodgers - aqui outra vez obrigado ao Dub) e é na prática o instrumental space disco do original : )

0 comentários




Entrevista: Tim Sweeney

Picard

Falámos com Tim Sweeney em Fevereiro de 2007 para a newsletter do Lux. Foi numa terça-feira, dia em que Sweeney apresenta o seu programa Beats In Space. Obrigado ao Lux.

Como é que estás, hoje?
Estou bem, estou bem, hoje é dia de comprar discos para o meu programa logo à noite.
Discos novos?
Sim, bom, novos e antigos. Ando aí pelas lojas a ver o que aparece. Há muitas coisas antigas que se arranjam, mas coisas novas acho que encomendo quase tudo da Europa.
Beats In Space: Star Trek ou Star Wars?
Acho que gosto mais do Star Trek, os novos Star Wars são terríveis.
Já foste a alguma convenção?
(risos) Uma vez, acho, tinha uns 12 anos, fui a uma convenção do Star Trek, por isso admito que sou um nerd. Ok.
Isso não é muito nerd, tinhas 12... Tens algum bem precioso?
Já não, mas tive um poster de cartão do capitão Picard, tinha orgulho nisso.
Não é muito vintage...
Pois, acho que não, mas eu gostava muito dele. Uma vez no Halloween vesti-me de capitão Picard.
Pensava mesmo que o nome vinha da cena Pigs In Space, dos Marretas.
(risos) Isso seria melhor.
Já tinhas feito rádio antes do Beats In Space?
Enquanto estava no liceu, o meu irmão já andava na faculdade e fazia um programa de rádio, por isso acabei por passar discos no programa dele, isso deixou-me interessado. Depois também fiz o mesmo noutra rádio perto do meu liceu, e com essas duas experiências percebi que queria fazer rádio sempre que pudesse.
Para além dos podcasts, Beats In Space é um programa em directo, também.
Sim, 89.1 FM aqui em Nova Iorque, na WNYU, que é a estação da Universidade de Nova Iorque, onde eu andei. Comecei a andar lá em 1999, foi quando comecei também o programa. Depois tive de manter o estatuto de estudante para poder continuar a fazer o programa, por isso tenho umas aulas todos os semestres numa escola de educação contínua.
Qual é a importância que as estações de rádio universitárias ainda têm?
A rádio mainstream é quase toda feita por computadores, agora, e é tudo música do top 40. Há umas duas estações comunitárias aqui em Nova Iorque. E aqui temos rádio por satélite, basicamente para as pessoas nos carros, mas isso acabou até por dar mais alternativas porque há tantas estações por satélite que podem ter diferentes tipos de música e aprofundar mais as coisas do que na rádio mainstream. Mas as rádios universitárias já não são tão importantes como eram, não faço ideia de quantos ouvintes temos...
Nunca fizeram sondagens?
Não estamos inscritos na cena Arbitron de sondagens, por isso não sabemos quantas pessoas ouvem a rádio em directo. Mas a rádio na internet abriu o mundo inteiro, a experiência tem sido óptima.
Conheces muitas pessoas que ficam em casa a ouvir rádio?
Não muitas... A minha namorada fica, isso eu sei. Mas até há pessoas a ligar para lá, por isso sei que há gente a ouvir. Muitas dessas chamadas são um bocado doidas, acho que quem fica em casa a ouvir rádio deve ser um bocado doido.
Em que ponto é que notaste mais interesse pelo teu programa?
Foi provavelmente quando comecei a trabalhar com a DFA, nessa altura também comecei a ter mais convidados no programa, mais material exclusivo, especialmente da DFA, e as pessoas começaram a interessar-se mais.
Tinhas dificuldade em arranjar convidados, antes disso?
Depende... Andei a tentar o Carl Craig durante muito tempo, esse foi dos que demorou mais tempo. Depende do interesse que os DJs e produtores têm por rádio. Para mim é bom porque em Nova Iorque não há nenhum sítio que passe este tipo de música. Por isso as pessoas que convido não têm outras hipóteses de tocar as coisas deles na rádio sem ser no meu programa. Podem fazê-lo na internet, mas não há mais nenhum sítio no que respeita a rádio ao vivo, por isso, se o formato lhes interessa, não tenho grandes dificuldades em levá-los ao programa. Só preciso de arranjar maneira de entrar em contacto com eles.
Como é que planeias os teus programas?
Para passar as minhas coisas é para aí um dia antes, ou então vou comprar discos no próprio dia, ou escolho coisas que não passo há muito tempo, o formato é muito aberto. É tudo feito ao vivo. Bom, alguns programas com convidados são pré-gravados quando eles vêm a Nova Iorque ou então enviam-me os sets. Mas na maioria dos casos tanto os programas com convidados como os meus são feitos ao vivo, não faço nada em casa no computador.
Achas que o Beats In Space é uma coisa muito de Nova Iorque? Como é o feedback lá fora?
Recebo montes de emails de fora de Nova Iorque, o que é óptimo. Acho que a maioria são de pessoas que gostam de ouvir o programa porque este lhes dá uma sensação de como é Nova Iorque. Acho que isso é em parte verdade, mas se essas pessoas viessem cá e quisessem encontrar uma noite onde se ouvisse exactamente este tipo de música não seria fácil. Mas o programa é um misto do que acontece aqui em Nova Iorque, o trabalho com a DFA, ir a lojas de discos e falar com pessoas daqui, trocar ideias.
Promoves muitas coisas que acontecem em Nova Iorque, no programa?
Sim, claro, tento sempre promover noites de outras pessoas, se valerem a pena. Mas sinto que o programa se tornou mais internacional, e então, mesmo que promova coisas, a maioria das pessoas não vai poder atravessar o Atlântico para vir a uma noite ou assim...
Tens a tua própria noite?
Costumava ter, agora é muito irregular.. Sei que a DFA quer começar a fazer alguma coisa regular aqui em Nova Iorque, porque achamos que a cidade precisa e toda a gente na DFA quer fazer isso, é só uma questão de encontrar o sítio certo. Agora está difícil porque não há sítios em Nova Iorque.
Como é que está a cena, aí?
Há muita coisa a acontecer. Não posso dizer que haja algo de novo mas há sempre muita coisa a acontecer, é sempre excitante estar aqui. Gostaria que a cena de clubes fosse mais forte porque há muitos bons DJs aqui e não me parece que tenham hipótese de mostrar isso tão bem em Nova Iorque como o fazem na Europa, onde há clubes muito melhores.
Pode falar-se numa Nova Iorque pré-DFA e pós-DFA?
Sim, acho que sim, as coisas mudaram depois da DFA. Há muito mais putos do rock a sair para dançar, e os putos da música de dança saem mais para dançar rock, esse cruzamento de caminhos acontece muito mais, agora. Mas há muitas outras influências para além da DFA, aqui em Nova Iorque.
Quando é que sentiste que ser DJ se tornou parte importante das tuas actividades, foi antes do Beats In Space?
Comecei a passar música no 8º ano e depois disso sabia que queria ser DJ quando crescesse. Sempre quis fazer isso em full-time.
Lembras-te da primeira vez que tocaste fora dos EUA?
Acho que deve ter sido numa das primeiras tournées da DFA, não me lembro bem... Fomos a Londres, Berlim e Paris, foi mais ou menos quando a editora estava a começar, 2003, por aí. Mas talvez tenha ido ao Canadá antes disso, é muito mais fácil ir ao Canadá.
Quem é que admiras como DJ, agora?
Adoro os Optimo, não me canso de os ouvir e a noite deles em Glasgow é incrível.
Já lá tocaste?
Nas noites Optimo aos domingos à noite não têm DJs convidados, só bandas, por isso ainda não toquei aí, mas eles fizeram duas noites em Glasgow, a primeira foi Optimo Apresenta DFA, num sábado à noite numa escola de artes, comigo e o Tim Goldsworthy a passar música e a Delia [Gonzalez] e o Gavin [Russom] a tocar ao vivo. Depois toquei na Optimo Apresenta ESG, foi incrível também, as ESG a tocarem ao vivo...
E produtores, ou bandas?
Recentemente tenho gostado bastante das produções do Maurice Fulton, porque ele anda a mudar as coisas, a reduzir-lhes um pouco a velocidade. E depois há uma coisa nova a sair na DFA, Andy Butler, o grupo chama-se Hercules And Love Affair. Estou a adorar as coisas dele, mal posso esperar para que sejam editadas, tem o Antony a cantar alguns temas, o que é fantástico. Tem traços de Arthur Russell mas também House de Chicago, Techno de Detroit... tipo Inner City, mas actualizado para 2007, estou a adorar.
E tu, não pensas em produzir?
Sim, claro, ando agora a fazer coisas com o Tim Goldsworthy. Vamos fazer dois maxis mas vão sair numa editora japonesa chamada Mule Musiq. Um dos maxis terá dois edits, bom, um edit e uma espécie de remistura pirata que fizemos, e depois o segundo maxi são duas faixas originais. Estou muito entusiasmado com isso, e ando também a trabalhar numas remisturas para umas bandas. Não sei quando isso vai sair, mas acho que as coisas com o Tim Goldsworthy sairão antes, acho que o primeiro maxi em Junho.
Vai sair com os vossos nomes?
Vai ser como T&T, porque somos dois Tims.

+

0 comentários





domingo, abril 01, 2007
--------------------------------------------------------------------

Música na Twilight Zone: Ralph Lundsten



O excesso de cor-de-rosa na vida de Ralph Lundsten faz-me lembrar exactamente a minha porta de entrada: o CD «Hairy Fantasies», há 15 anos, foi directo para a prateleira depois de uma audição rápida e a conclusão de que não servia o gosto da época. Mesmo assim, «In The Office Jungle» pareceu sempre uma possibilidade para mixtapes e tornava a ouvir o disco com anos de intervalo. O booklet rosa explica uma fantasia cósmica contada através dos títulos, mas na minha cabeça a imagem de Andromeda na capa não ligava com o castelo de conto de fadas na contracapa. Agora liga.
A música de Ralph Lundsten é difundida por todo o mundo porque o hino de abertura da Rádio Suécia Internacional foi composto por si. Nasceu em 37, começou a construir e equipar o estúdio Andromeda em 1959 e «Discophrenia» saiu em 1978. Há uma reedição na Svek em 1998 com remistura de Jesper Dahlbäck, maxi duplo também com a versão original. Claramente não-Disco, não para as pistas de dança, mas com um groove inspirado no Espaço e nas bolas de luzes que Lundsten tinha no estúdio. «Hairy Fantasies» reúne música gravada entre 1972 e 86, dispersa por vários álbuns, com destaque para quatro temas do álbum que também se chama «Discophrenia».
O estúdio Andromeda foi equipado não apenas para som mas também para imagem. O sonho hippie, às vezes ácido, de Lundsten, produziu uma atmosfera irreal por todo o edifício onde se encontra o estúdio, o castelo de Frankenburg (séc. XIX), perto de Estocolmo. As várias divisões estão decoradas um pouco como um retiro new age, um pouco como cenário de filme surrealista, e a música que se ouve no CD é mais ou menos a transcrição sonora do psicadelismo pastoral do edifício. Mergulha-se claramente na década de 70, quando se experimentou muito com som e imagem em direcção ao Espaço. O nonsense de muita música em «Hairy Fantasies» traduz uma liberdade criativa impressionante, numa época pré-editoras independentes e fora de estruturas académicas. «Rendez-Vouz With A Washing Machine», «Computerful Love», «Cat Nymphony» têm ruídos, delírios ecos e dissonância suficientes para se pensar em que zona estava a cabeça de Lundsten. E depois onde estava a mesma cabeça quando compôs obras na fronteira com a new age mais inconsequente. Ralph é um homem da Renascença, artista multifacetado com uma visão muito própria (ainda que artisticamente questionável), patrono das artes e anfitrião por vocação na sua casa-jardim. Tudo muito complexo e quase tudo coisas que não precisamos de saber para fugir da realidade com a música mais experimental e avançada de Lundsten.

+

+
+

0 comentários